Orientações dos Bispos para as eleições de 2018
MUITA ATENÇÃO PARA OS ITENS 5, 8, 12, 17, 19 E 24
Os
Bispos do Regional Leste 1, após ouvirem os leigos e também a igreja ordenada,
apresentaram a todos os fiéis, orientações para as eleições 2018. Confira a
íntegra do documento:
1-Nós,
bispos do Regional Leste 1, após ouvir leigos e padres de nossas dioceses,
apresentamos algumas orientações para o momento eleitoral que se aproxima.
Embora nos dirijamos aos católicos, desejamos que nossa palavra chegue a cada
eleitor do Estado do Rio de Janeiro, suscitando reflexão e diálogo, a fim de
que o voto seja consciente e responsável. Unimo-nos aos bispos de todo o
Brasil, cuja mensagem foi apresentada na assembleia deste ano (CNBB, Eleições
2018: compromisso e esperança, Aparecida, 17 de abril de 2018)
.
2-
Falamos a partir da fé, na certeza de que “ninguém nos pode exigir que
releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer
influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das
instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que
interessam aos cidadãos” (Papa Francisco, Evangelii Gaudium 283). Estamos
certos de que “o amor social nos impele a pensar em … uma cultura do cuidado
que permeie toda a sociedade. (Papa Francisco, Laudato Si’ 231).
3-Conscientes
de que toda eleição é um passo a mais no amadurecimento da democracia e no
exercício da fé que também é cidadã, não podemos fechar os olhos para o atual
momento da história de nosso país e de nosso Estado. Vivemos um momento crítico
e as eleições deste ano se tornaram um desafio ainda maior, aumentando a
importância de nosso voto. Embora não seja a única solução, ele é um caminho
indispensável para que a democracia se solidifique e o povo de todo o Brasil e
de nosso querido Estado do Rio encontrem a paz.
4-Neste
Ano do Laicato, lembramos que “os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar
da participação na política destinada a promover o bem comum”. Por isso,
louvamos todas as pessoas que, nas variadas formas de engajamento, atuam para
que o bem comum, em especial dos mais pobres e vulneráveis, seja defendido.
5-Temos
consciência de que não apresentamos aqui respostas prontas. Acreditamos no
discernimento feito em oração e diálogo. Por isso, desejamos contribuir, à luz
do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja, para estimular a participação e o
discernimento de cada pessoa e grupo, considerando o tempo muito curto até as
próximas eleições, num cenário onde as informações não chegam com a desejada
clareza.
6-Voto: exercício da
consciência
Não se abstenha de votar! Não
vote em branco! Não anule seu voto! Não se deixe conduzir pelo desânimo e a
descrença! Compareça à urna e indique claramente quem você deseja que ocupe
funções tão importantes para o bem da nação, em várias de suas instâncias. Se
existe frustração quanto a pessoas que no passado elegemos, nem por isso
devemos nos esquecer de que existem pessoas éticas, corretas e
bem-intencionadas em contribuir para um país mais justo, solidário e
desenvolvido, que exigirá de nós um esforço maior de pesquisa e discernimento.
7-Lembre-se de que não existem
votos definitivos. Ao contrário, o retorno periódico às urnas é uma garantia de
que a democracia se fortalece exatamente pela contínua escolha e posterior
vigilância de que o prometido em campanha seja cumprido no mandato.
8-Busque
se informar a respeito do sistema eleitoral brasileiro e do modo como, a partir
dele, se contabilizam os votos. Perceba que, no atual sistema, não existe outra
forma de manifestar o descontentamento e a frustração que não seja escolhendo
candidatos. Sua omissão pode contribuir para que tudo que você abomina acabe
por se perpetuar.
9-Não
deixe que ninguém escolha por você. Busque, na oração, na reflexão e no diálogo
quem apresente as melhores condições possíveis para contribuir com paz, a
justiça e o bem comum. Em nossos dias, sofremos pressões de todos os lados, com
notícias e mensagens que entram em nossas casas sem serem convidadas, com o
perigo de se instalarem em nossas consciências e corações. Só o diálogo em
família e com os amigos é capaz de ajudar no discernimento.
10-Não
se deixe levar pela falsa ideia de que não se deve conversar sobre política e
escolha eleitoral. Esta ideia beneficia exatamente quem você não deseja ver
cumprindo funções tão importantes. Fale, converse, interrogue e escute. Se uma
amizade se abalar por causa de questões políticas e eleitorais, o que se deve
rever é a amizade.
11-Por
respeito à consciência de cada pessoa, não indicamos nomes, afirmando
claramente que não existem candidaturas oficiais da Igreja. Indicamos critérios
para o discernimento pessoal, pois o respeito à consciência é o ponto de
partida para que o processo eleitoral transcorra de acordo com o Evangelho e a
autêntica democracia. Por mais confiável que uma pessoa lhe possa ser, ela não
tem o direito de simplesmente lhe dizer em que você deve votar. Por mais que
você experimente a insegurança, não lhe é dado o direito de passar a outrem a
decisão de em quem votar.
12-Voto: princípios e valores
depositados na urna
Ao refletir sobre candidatos e
partidos, você sabe que não pode apoiar quem, de algum modo, defenda valores
contrários ao Evangelho. Por isso, verifique se as propostas apresentadas
realmente defendem a vida, a família, os pobres, liberdade religiosa, saúde,
educação, moradia, geração de renda e o direito a usufruir de um meio ambiente
livre de poluição.
13- Não
restrinja sua escolha à questão da segurança no sentido restrito da palavra.
Esta, sem dúvida, é uma questão cada dia mais grave. No entanto, é necessário
compreender a segurança no horizonte da justiça social, buscando propostas que,
entre outros aspectos, se preocupem de verdade com a fome, a falta de trabalho
e moradia, as migrações forçadas e a concreta recuperação dos apenados. A
segurança tem várias dimensões que precisam ser integradas: social, alimentar e
nutricional, sanitária e saúde, ambiental, digital e informática, entre outras.
14-Ao
conversar com quem se apresenta pedindo seu voto, examine com que tipo de
sociedade esta pessoa está comprometida. Verifique também se ela possui clareza
da função que vai exercer. Desconfie quando lhe forem feitas promessas que não
poderão ser cumpridas porque não dizem respeito à função pleiteada.
15-Não
caia na armadilha do favorecimento imediato para si, parentes e amigos, nem
para a comunidade. Essas ajudas mostram que o verdadeiro interesse do candidato
é apenas conseguir seu voto. Quem faz isso durante o processo eleitoral, o que
não fará depois de eleito? Não se venda nem venda seu voto por benefício algum.
Não existe preço para a consciência. O voto não tem preço; tem consequências!
16-Não
se deixe levar mais pela emoção que pela razão. O voto emocional ou passional,
principalmente quanto fruto da decepção e da revolta, pode levar a escolhas das
quais nos arrependeremos mais tarde.
17-Rejeite
candidaturas cujas campanhas mostrem grandes recursos econômicos. O valor de
uma candidatura não está nos gastos que faz, mas nas propostas que apresenta e
na seriedade da vida pregressa. Rejeite igualmente candidaturas envolvidas em
corrupção. Candidatos ficha suja não podem ser aceitos. Por isso, as
comunidades devem se empenhar em conhecer e divulgar a Lei da Ficha-Limpa (Lei
9840).
18-Lembre-se
de que cargo político não pode ser emprego. Obviamente ninguém vai se
apresentar dizendo que deseja lucrar com o cargo. Entretanto, existem sinais
que podem ajudar a perceber esta intenção. Se, por exemplo, é alguém que já
exerceu alguma função pública, verifique se as atividades desempenhadas foram
de ajuda efetiva ao próximo, em especial os mais pobres, com o empenho pela
transformação das causas dos sofrimentos, se foram apenas aproveitamento,
através de medidas paliativas, ou, pior ainda, clara omissão diante do
sofrimento do povo.
19-Acompanhe
as pesquisas eleitorais, mas não se prenda a elas. Voto não é corrida em que o
apostador tem que necessariamente ganhar. As pesquisas e outros instrumentos de
avaliação não podem substituir a reflexão e o diálogo, muito menos o contato
pessoal e mais direto com quem pede seu voto.
20-Procure
estabelecer contato pessoal com os candidatos. Em virtude de inúmeras técnicas,
as assessorias preparam os candidatos para dizer o que os eleitores desejam
ouvir. Só o contato pessoal, com questões muito concretas a respeito do passado
e do presente de cada candidato, é que se pode fazer um discernimento um pouco
mais sólido.
21-Dentro
do possível, sejam feitas reuniões com candidatos, para que, através do contato
direto, verifiquem-se as intenções e as efetivas propostas. Estas reuniões
devem ser preparadas através da pesquisa sobre a vida e os projetos de quem se
apresenta para conversar. Questões diretamente ligadas à vida do local devem
ser apresentadas, abrangendo, porém, as preocupações com a vida de todo o país
e do nosso Estado do Rio. As propostas locais devem estar diretamente ligadas ao
que se deseja para toda a nação, ainda que concretizadas no nível respectivo.
22-Lembre-se
de que, numa democracia, o equilíbrio dos poderes é indispensável. Por isso,
não restrinja suas preocupações somente ao executivo ou ao legislativo.
Empenhe-se em discernir seu voto para esses dois poderes, pois é exatamente do
seu equilíbrio que se corrigem erros, superam-se vícios e se avança na
democracia e no efetivo respeito aos cidadãos, em especial os mais pobres e
vulneráveis. Cabe recordar que uma reforma política é urgente e necessária.
23-Voto: escolha e
acompanhamento
Pedimos às comunidades que
acompanhem de perto os que se apresentam para cargos eleitorais, pois “a
militância política é missão específica dos fiéis leigos que não se devem
furtar às suas obrigações nesse campo” (CNBB, Cristãos leigos e leigas na
igreja e na sociedade, sal da terra e luz do mundo, nº 261)
Voto:
um gesto que começa agora!
24-
Estas são as nossas orientações. Não são nem poderiam ser indicações nominais,
pois isto feriria gravemente o Evangelho no qual cremos. Pedimos que elas sejam
lidas muitas vezes, tanto individual quanto comunitariamente, pois são um
convite a gastar tempo para se reunir com a família, os vizinhos e os amigos,
mesmo que seja necessário reorganizar as atividades, numa vida que se torna
cada dia mais agitada e corrida.
25-Pedimos
também que estas orientações não fiquem restritas apenas aos católicos, mas
atinjam o maior número possível de pessoas. A realidade eleitoral é um dever
humano, que onera a todos e, por isso, o discernimento em comum precisa ser
feito, envolvendo a todos, em especial os que, por frustração e descrença,
preferem se abster.
26-De
acordo com o jeito de ser da comunidade, forme-se pelo menos um grupo para
dinamizar a reflexão. Nele, haverá pessoas com opções políticas diferentes, mas
com maturidade suficiente para colaborar com o discernimento, não colocando as
escolhas pessoais acima do bem comum e da ajuda às consciências.
27-Aproveitem
as redes sociais, para divulgar horários e locais dos encontros com a presença
de candidatos ou encontros em que as famílias, os vizinhos ou as comunidades
vão conversar sobre o assunto.
28-Diante
de tantas notícias, que, no atual contexto, podem ser verdadeiras ou falsas,
sejamos prudentes e busquemos a verdade dos fatos antes de compartilhar uma
informação nas redes sociais.
o
uso das redes sociais depende de nós. Para tudo isso, o trabalho da Pastoral da
Comunicação vai ser indispensável.
29-Voto: uma ação que se
mantém todos os dias.
Nossa preocupação com o
urgente e angustiante momento eleitoral de 2018 não nos deve fazer esquecer de
que precisamos criar uma cultura do acompanhamento de quem, por nosso voto, é
colocado em funções públicas. As comunidades são, por isso, mais uma vez
convocadas a criar grupos e outras instâncias para manter o contato com os que
são eleitos, acompanhar o que acontece nas casas legislativas e perceber os
rumos e as consequências dos atos do executivo.
Voto:
uma atitude sempre rumo à unidade.
30-Em
tudo isso, não podemos nos esquecer de que a diversidade de escolhas políticas
não deve se tornar divisão nem inimizade, ainda mais dentro das comunidades. A
política é um serviço que se presta ao bem comum e, maior que todas as
diferenças que nela venham a existir, encontra-se o Bom Deus, que a todos ama
indistintamente. Onde, portanto, houver divisão, discórdia e conflito, que o
bom senso seja urgentemente buscado, a fim de que o bem de todos seja atingido.
Senhora
Aparecida, Mãe de Deus e Mãe dos brasileiros
Que
a Senhora Aparecida – Mãe de Deus e de todo o Brasil, Mãe dos que se alegram e
dos que choram, dos que sonham e dos que desistiram, dos que buscam uma pátria
de paz, justiça, amor, concórdia e bem comum – interceda, como sempre, pelo
povo brasileiro e, de modo especial, pelo Estado do Rio de Janeiro, para que o
processo eleitoral seja vivido com respeito, corresponsabilidade e esperança.
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